terça-feira, 1 de abril de 2008

Comunitária????

Há muita gente mascarada de comunitário, mas é um traficante das ondas rádio que quer ser legalizado para fazer seus negócios com as igrejas e os prefeitos de plantão. Ele ou ela, estará sempre de bem com o prefeito eleito e se souber que aquele será o eleito até se integra na campanha. Aqui, na Bahia, em Ipiaú, entre as primeiras 115 outorgada no ano 2000 (quase todas no interior e uma chamade Gostosa FM em Salvador), a rádio comunitária filiada à ABRAÇO (organizada por jovens estudantes petistas) foi logo apossada pelo vererador do PT e - já autorizada - abandonou a ABRAÇO. Este fato foi uma lição para nós da ABRAÇO que passamos a inserir nas estratégias de filiação e formação da sociedade local ( os despossuidos na economia, na comunicação e na politica) a idéia de que a rádio comunitária depende do processo social permanente de comunitarizaçã o nas inumeras relações e interações sociais. A rádio deve ser o resultado e ao mesmo tempo instrumento deste processo de comunitarizaçã o das relações e interações sociais. De cara, temos que difundir nas localidades pequenas (cidades e povoados) e bairros das grandes e capitais de estado, a noção de que a rádio é ágora moderna na política, a nova praça pública onde todos podem se reunirem, se abraçarem, se conflitarem, mas buscarem o diálogo, o consenso, a solidariedade humana, o respeito às diferenças e à vida, o lugar das expressões artisticas, os recados, o lugar da produção dos sentimentos de partilha, emfim, educar a todos para a vida em comunidade, mas, projetar, neste mundo de relações economicas, culturais e politicas de sentido emancipador, a utopia de um lugar de todos para todos.

Em outras palavras, numa visão contra-hegemonica, essa rádio deve ser gerida pela maioria social despossuida e ser um instrumento das praticas sociais emergentes produtoras de novas relações de poder sempre em oposição crítica aos poderes prefeiturais instituidos, os quais são modelados pela razão hegemonica do capital ( temos prefeitos e vereadores que defendem suas propriedades, seus interesses de mercado, beneficios para seus negocios, sempre interesses privados, individuais e de instituições religiosas, etc).

Essa já legalizada, ou candidata à legalização, deve envolver o maior múmero possível de representações sociais e deve ter como utopia um projeto educativo, cultural e político de produção de subjetividades sociais inconformadas. Neste sentido, as organizações de bases dos movimentos de moradia, de genero, dos sem terra, dos estudantes, dos jovens, dos idosos, das etnias indígenas ou quilombolas, encontram neste espaço radiofonico público não-estatal e não -privado as condições objetivas e subjetivas para trocarem informações, praticarem a liberdade de expressão e socializarem projetos alternativos de poder. Este projeto de comunitarizaçã o permanente das relações sociais, economicas, culturais, educativas (nós) e políticas espelha o que deve ser praticado de modo horizontal, dialógico, participativo, não- individualizante, não -institucional, não - midiático, nas relações internas associativas gestoras comunitárias da emissora.

A ABRAÇO-Ba não defende esta ou aquela rádio que se diz comunitária. Ela defende as rádios filiadas, as quais devem ter sido construidas por mais de duas representações sociais e ter o compromisso de agregar, sob parâmetros comunitários e de cidadania, a longo prazo, todas as representações sociais populares, possíveis então de produzirem um projeto comum de desenvolvimento humano, isto é, numa perspectiva humanizadora, ou seja, dar novas direções oponentes ao modo de desenvolvimento histórico capitalista da sociedade brasileira. Se existe algum projeto de rádio de alguma comunidade, de iniciativa isolada, esta rádio deve ser identificada, vir a ser filiada à ABRAÇO, e, assim, passa a ser defendida pelo movimento de radiodifusão comunitária, mas, ao mesmo tempo, deve ser objeto de formação para que sirva de fato ao processo de democratização e comunitárização da sociedade, da rádio e da comunicação.

Em suma, o movimento de radiodifusão comunitária deve defender as comunidades no exercicio do direito à comunicação, isto é, o de apropriar-se coletivamente ou comunitariamente das ondas de rádio públicas não-estatais e, a partir dai, identificada como realmente da comunidade, a rádio será defendida dos aparatos repressivos já conhecidos, porque ela é o instrumento - veiculo e tecnologia - necessário para que a comunidade efetive o exercicio do direito coletivo e difuso à comunicação e se produza como ente social de libertação dos seres humanos.


Jonicael Cedraz, suplente da ABRAÇO nacional e diretor da ABRAÇO-Ba.

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